domingo, abril 10, 2011

Geração/ões à rasca: afinal "contra" quem estão?-1


(fotos-M.Alegria, 12-3-2011, Porto)

Umas horas depois do protesto "Geração à Rasca", muitos comentadores, baseados em imagens filtradas pelas TVs, criticavam aquele movimento, por se ter revelado um protesto meramente anti-governo e...ufff.. (o nome da personagem ainda soa em verberação do tão gritado e alucinado congresso deste fim-de semana)... anti-Sócrates. Permitam-me discordar completamente. E passo a explicar.

Por um lado e essencialmente, quem esteve mesmo em qualquer das manifestações pelo país não terá notado essa insistência no Primeiro Ministro, embora até totalmente justificável. Os manifestantes demonstravam uma angústia para além de tudo isso e a maioria dos cartazes (de que os destas fotos serão das raras excepções) versavam os problemas que afectam os jovens de hoje e os portugueses em geral, que afligem os portugueses que nunca têm voz e também boa parte dos europeus e cidadãos do mundo abalados pela globalização, Eram cartazes sobre a precariedade e os falsos recibos verdes, os bolseiros e os estágios não remunerados, o capitalismo e a corrupção, os políticos sem qualidade e tachistas,a exploração do trabalho, o desemprego, a miséria, os pais que ainda têm de sustentar os filhos sem emprego, pais e filhos que não conseguem ter futuro e emigram... Era esse o desepero e a urgência em falar que brilhava nos olhos, a vontade de finalmente sair à rua em união e sem rotinas de partidos ou sindicatos.

Por outro lado,é evidente que é mais que natural que as pessoas destilem alguma da sua amargura para com a figura que tão omnipresente e sufocante se tornou no país,nos últimos seis anos, mas também em governo anterior como ministro, já aí visivelmente obstinado. Se o cavalheiro tão presente se quis para o País, como salvador, líder-mor do "patriotismo" e da "determinação", modelo de elegância e de atletismo, etc. , não pode agora queixar-se muito que se vire o feitiço contra o feiticeiro e se veja a descer com rapidez a ladeira da fama que tão depressa subiu, ainda para mais com tantas manchas indeléveis no seu passado.

Alguns disseram que era inútil esse alvo da manifestação, tendo em conta que o que( e quem) se prepara para alternativa não é melhor ; e que a crise é Europeia, não tem vilões específicos e por aí fora.

Claro que José Sócrates e Pedro P. Coelho são o que se chama "farinha do mesmo saco"( para já um ainda imaculado quanto à questão do mundo da corrupção e influências), porque provenientes da mesma fábrica de "cromos" políticos que nos andaram a impingir durante as décadas da democracia, para a nossa "caderneta" de "Portugal desenvolvido".

José Sócrates será apenas o mais recente e presente da colecção, o que nos últimos anos nos tem dado cabo da paciência, pois insiste em colar-se-nos aos dedos e aos bolsos.

PPC será a nova edição, revista e de impressão retocada. A mesma colecção ambos, apenas diferentes tipografias.

Foi contra esta tradição politiqueira aliada à especulação financeira e ao clientelismo económico,-- três factores que têm sugado cada vez mais depressa o país e que o tem deixado sem rumo, sem futuro-- que as pessoas sairam à rua nesse sábado: os cidadãos comuns fartos de serem roubados e sacrificados sem piedade, em contínuos anos de crise da qual não lhes apontam o fim.

Foi essa revolta e verdadeiro patriotismo (com o sentido de amor ao País) que vi dominar toda o protesto, todos os depoimentos das mais diversas pessoas, todos que desfilaram de forma ordeira e esperançosa, com um misto de ar grave e de felicidade nos olhos, por verem que afinal o país não está a dormir, que há motivações comuns nos que ali estavam, o sem abrigo ao lado da avó elegante, o humilde pensionista ao lado do estudante, o "gótico" ao lado do professor universitário, a criança aos ombros do adulto--não são floreados românticos, vi essa convivência no protesto.

Foi contra um certo estado de coisas e forma de gerir o país que se manifestavam. Os tais comentadores de bancada não entenderam. Alguns políticos pareciam ter entendido um pouco, mas depressa e de novo tudo esqueceram, entrando o país político de novo no circo da partidarite e da jogatina das listas de eleições, dos congressos de fachada, dos discursos inchados de ar bafiento, das idolatrias dos líderes deslumbrados, do desperdício de verbas públicas em foguetórios, mais influências e clientelas, mais promessas de tachos para uns e novo apertar de cinto para os mesmos, em suma, novo espremer do país até à última gota de dinheiro, de independência... de paciência.

E tudo isso é muito degradante. Por isso, não deixaremos esquecer estes protestos, teimando em que possam dar frutos, quanto mais não seja para que o país não continue a entregar o seu Futuro a pessoas sem escrúpulos e a sistemas falidos e estúpidos. Para que o povo não se abstenha do seu querer, não abdique do seu poder, que é maior do que pensa. Vimos isso escrito, por momentos,nas caras de espanto dos observadores e comentadores, no passado dia 12 de Março de 2011. Depois, disfarçaram e especularam...

"Alergia"

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