Creio que ainda não tinhamos abordado a questão do ensino Superior em Portugal, aqui no "Uma aventura Sinistra". Um bom retrato julgo ser este que Miguel Esteves Cardoso fez numa das sua mini-crónicas, há dois dias.
O texto dispensa mais comentários e, apesar de breve, dá muito que reflectir sobre a distorção que é a vida académica no país. Por ser breve também, transcrevo na íntegra. Os destaques a negrito são nossos. Sempre especial, este MEC!
O texto dispensa mais comentários e, apesar de breve, dá muito que reflectir sobre a distorção que é a vida académica no país. Por ser breve também, transcrevo na íntegra. Os destaques a negrito são nossos. Sempre especial, este MEC!
"A academia podre"
"Quando eu era estudante na Inglaterra, antes e depois de me licenciar e doutorar, durante mais de uma década, feliz ou infeliz, graças aos estudos que eram (agora reconheço e agradeço) licenças pagas para as leituras estudiosas que me apetecessem,vivi num mundo sem cálculos de eficiência, recompensas monetárias ou expectactivas de emprego.
As universidades em Portugal, onde depois fui professor cheio de esperanças e incertezas,revelaram-se ser masmorras ignorantes, cheias de preconceitos e privilégios medievais, sem a mais pequena pretensão académica.
Nem os estudantes estudavam -- mantinham uma vida social intocável--, nem os professores professavam. Dizer que era um sistema corrupto implica que tinha sido, nalgum passado, por muito distante, mais puro. Não tinha. Tinha melhorado. Mas muito pouco -- e só graças ao tique-toque inevitável do progresso. Em Portugal a podridão intelectual, que consiste na valorização da superioridade hierárquica e etária, não mudou,nem mudará tão depressa.
O mal está no vício de ver e entender a carreira académica como um prenúncio ou o sinal de outra coisa qualquer, quando não é mais do que uma carreira académica, uma maneira de continuar a estudar.
É muito diferente a perspectiva portuguesa -- de viver enquanto se estuda -- da inglesa-- de estudar enquanto se vive. Continua a ser muito mais difícil ser estudante aqui e ainda mais difícil seguir uma carreira académica, com o espírito distraído."
Miguel Esteves Cardoso, in "Público", 26 de Abril de 2011
"Quando eu era estudante na Inglaterra, antes e depois de me licenciar e doutorar, durante mais de uma década, feliz ou infeliz, graças aos estudos que eram (agora reconheço e agradeço) licenças pagas para as leituras estudiosas que me apetecessem,vivi num mundo sem cálculos de eficiência, recompensas monetárias ou expectactivas de emprego.
As universidades em Portugal, onde depois fui professor cheio de esperanças e incertezas,revelaram-se ser masmorras ignorantes, cheias de preconceitos e privilégios medievais, sem a mais pequena pretensão académica.
Nem os estudantes estudavam -- mantinham uma vida social intocável--, nem os professores professavam. Dizer que era um sistema corrupto implica que tinha sido, nalgum passado, por muito distante, mais puro. Não tinha. Tinha melhorado. Mas muito pouco -- e só graças ao tique-toque inevitável do progresso. Em Portugal a podridão intelectual, que consiste na valorização da superioridade hierárquica e etária, não mudou,nem mudará tão depressa.
O mal está no vício de ver e entender a carreira académica como um prenúncio ou o sinal de outra coisa qualquer, quando não é mais do que uma carreira académica, uma maneira de continuar a estudar.
É muito diferente a perspectiva portuguesa -- de viver enquanto se estuda -- da inglesa-- de estudar enquanto se vive. Continua a ser muito mais difícil ser estudante aqui e ainda mais difícil seguir uma carreira académica, com o espírito distraído."
Miguel Esteves Cardoso, in "Público", 26 de Abril de 2011
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