quarta-feira, dezembro 01, 2010

É dentro de cada um que começa a Restauração e a Revolução

(foto (c) Margarida Alegria,25-4-2010)
Eis então mais um feriado. Como de costume, uma boa parte do povo português desconhecerá o motivo, mas o que conta é mais um dia para ir ao shopping, um dia tão bom de solzinho e cafezinho,parafraseando os Da Weasel. Não posso neste momento desfrutar de nada disso, mas restam-me algumas forças para deixar aqui algumas reflexões sobre a data, tentando descobrir focos de Esperança por entre a tonelada de problemas, de angústias e de desilusões diárias que nos oprimem. Já o nosso iluminado "Arrebenta" nos deixou aqui à mostra,em post anterior a este, os despojos de "liderança de fancaria" que sobram no mundo após tantas tantas e sofridas revoluções. Por isso, estando quase tudo dito,vou centrar-me apenas no distante 1 de Dezembro de 1640 e, como referi, reflectir sobre o que podemos hoje aprender com o que aconteceu.
Estávamos então sob o jugo do Reino de Espanha, após o desaire megalómano de Alcácer Quibir, a viver a nossa vidinha "muito quentinhos"(?) quando surgiu na cabeça de D. Luísa de Gusmão,sob o seu empolado penteado,a ideia peregrina de aproveitar a distracção dos castelhanos com os rebeldes lá pela Catalunha e empurrar o seu filho João para a Restauração da independência de Portugal. D.João, futuro João IV, era um melómano de artes várias e só queria que o deixassem em Paz, para se tornar um compositor famoso. Mas o dever maior de amor à pátria lá o desencaminhou: largou o seu egocentrismo e vai de tomar o Paço com poucas dezenas de homens, de se tornar guerreiro em batalhas várias, de tirar o Miguel de Vasconcelos do armário (?!-- no sentido antigo da expressão, atente-se...) e de o "defenestrar" (dos poucos termos eruditos que ainda sabemos interpretar, graças a esta imagem pitoresca da nossa História), enfim... tudo o que mais se seguiu.
E que resta disso, perguntamos? Há quem diga que mais valia terem ficado todos quietos, que estariamos melhor hoje todos espanhóis. O Iberismo debate-se desde então e talvez hoje tivessemos mais um compositor (mediano? excelente?) na História Mundial e menos um país (mediano? caduco? indescritível?...) no Mapa. Entre razão e coração, confesso que não consigo ter opinião definida sobre esta questão. Mas acho que tenho algumas sobre o poder da Revolução(..ão ...ão..ão).
Assim : acho que mesmo uma revolução colectiva parte sempre de vontades e gestos individuais,ou seja, a revolução começa em cada um de nós. Foi uma decisão e gesto de altruísmo e abnegação individual que levou a ser rei quem não queria ser rei, foi a decisão e a coragem individual de cada um dos Conjurados que levou a Restauração em frente. Claro que depois seguiram-se logo os oportunismos variados, mas o gesto de liberdade autêntica começou daí e não é aos Conjurados que deveríamos reverter as culpas.
Assim acontece com cada um de nós, cada vez mais estou convicta. Ansiamos todos por mudança: neste momento especialmente por algo que mude para melhor o nosso país e o desvie do famoso Abismo; desejamos que algo se inverta no Mundo , nesta destruição paulatina e cínica dos direitos sociais que haviam sido conquistados no século XX, queremos um mundo melhor onde o poder do dinheiro e outros poderes tiranos não prevaleçam.... mas esquecemo-nos daquilo que CADA UM pode fazer, por sua opção corajosa, daquilo que cada um também se pode recusar fazer para que toda uma sociedade não se veja a compactuar com este estado das coisas.
Por isso a verdadeira Revolução é muito difícil, pois é a que exige mais coragem, menos egoísmo, mais honestidade e maior sentido de justiça : a revolução dentro de cada um de nós, dentro (e já sei que vão achar pirosa a expressão!) do nosso próprio "coração", dentro da nossa vida. Como posso clamar por justiça nacional e mundial se for injusta com aqueles que contacto diariamente e que fazem parte, mal ou bem, do meu próprio pequeno mundo? Como posso pedir coragem aos outros não a tendo? Como posso exigir altruísmo aos outros sendo egocêntrica? Como posso clamar contra os abusos de poder na sociedade, quando nos meus próprios poderes pessoais por vezes ajo de forma tirânica,cruel e absolutista? Eu sei que é difícil, pois é batalha que tento travar diariamente e tantas , tantas vezes não consigo vencer, pedindo ou não tréguas, mas sei que é o único e primeiro caminho que fortalece todos os pilares ideológicos que me possam sustentar.
Cada dia que passa, temos que nos Restaurar a nós próprios, dando a hipótese de sermos "Independentes" de conquistar passo a passo a nossa própria Liberdade, que mesmo socialmente já se viu que não pode ser imposta de fora para dentro. Eu quero a minha própria Restauração e por isso tenho de me revolucionar a cada momento, para conseguir a Restauração da Liberdade e da Democracia no País e no Mundo.
Eu devo isso ao mundo e sobretudo a todo um caminho da Humanidade que me trouxe, melhor ou pior, até ao momento em que vivo. Devo-o não só aos meus pais e avós directos mas também a todos os desconhecidos e/ou "famosos" que largaram os seus egoísmos para lutar pelos direitos Humanos e por uma vida melhor. Devo-o a todos os que tenho a felicidade de compartilharem um pouco da vida comigo: devo-o à minha família --que me criou(beijos!),-- aos meus amigos-- que me "educam" todos os dias(abraços!)--, aos bons colegas de trabalho("passou-bem"!), aos bons vizinhos (boa tarde!)e também aos desconhecidos que me fazem pensar, no dia-a-dia, com os seus gestos de solidariedade ou com as suas palavras ocasionais, só aparentemente banais.
Bem, isto tudo pode parecer muito "ideia feita", muito revisto, muito´"lírico", muito "utópico" e romântico e se calhar é mesmo, mas não é lírica e Romântica por natureza toda a Revolução verdadeira? E a Utopia só é ficção porque temos medo de a viver e tornar real. Agora, querem que o que vemos em nosso redor continue a degradar-se desta forma célere? Ou querem mesmo resistir a esta vergonha universal, querem mesmo restaurar a Liberdade querem mesmo uma verdadeira Revolução que não descambe rapidamente em poderes corruptos e injustiça? Então "revolucionem-se"!
Como já acabei por dizer mais do que contava, seguem-se apenas umas citações que seleccionara, para meditarmos sob este solzinho de Inverno ou no calor do lar, todas de pessoas mais abalizadas que eu em matéria de poder, de paz e de revolução. São variadas, talvez sejam até contraditórias e/ou se completem, mas isso acontece porque partem de pessoas diferentes, que deram o seu contributo individual para a Humanidade.
Um bom resto de feriado a todos!
"Alergia"
Citações:
--"Guerra é apenas uma fuga covarde dos problemas da Paz." Thomas Mann
--"A verdadeira revolução acontece quando mudam os papéis e não apenas os autores." Gilbert Cesbron
--"Os poderosos poderão matar uma, duas, ou até três rosas, mas jamais poderão deter a Primavera." Che Guevara
--"Todas as revoluções se evaporam, deixando para trás apenas a lama de uma nova burocracia." Franz Kafka
--"Se quiser pôr à prova o carácter de um homem, dê-lhe poder." Abraham Lincoln
--"Mesmo no mais alto trono do mundo, estamos apenas sentados sobre nosso rabo." Montaigne
--"O poder só sobe à cabeça, quando encontra o lugar vazio.", Ciro Pellicano
--"O amor pelo seu país é algo esplêndido. Mas por que é que o amor tem de terminar na fronteira?" Pablo Casals
--"Quem sabe faz a hora, não espera acontecer." Geraldo Vandré (da canção "Para não dizer que não falei das flores")
--"Não existe um caminho para a Paz. A paz é o caminho." A.J. Muste

4 comentários:

Bilder disse...

Belo post este,pena que os poderes estejam realmente muribundos e corruptos.

Alergia disse...

Obrigada.:)
Pois... Mas,diz o mito, a Esperança ainda ficou guardada no fundo da caixa.Espreitando bem ainda a vamos encontrando, um tanto encolhida a um canto.

Metamorfose disse...

Abraço, Alergia!

Alergia disse...

Metamorfose, um grande abraço! :)