A grande evasão ( de professores)
Texto de Manuel António Pina, publicado no Jornal de Notícias
'Quem pode, foge. Muitos sujeitam-se a perder 40% do vencimento. Fogem para a liberdade. Deixam para trás a loucura e o inferno em que se transformaram as escolas. Em algumas escolas, os conselhos executivos ficaram reduzidos a uma pessoa. Há escolas em que se reformaram antecipadamente o PCE e o vice-presidente. Outras em que já não há docentes para leccionar nos CEFs. Nos grupos de recrutamento de Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia. Há centenas de professores de Contabilidade e de Economia que optaram por reformas antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como profissionais liberais ou em empresas de consultadoria. Só não sai quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento ou porque não tem a idade mínima exigida. Conheço pessoalmente dois professores do ensino secundário, com doutoramento, que optaram pela reforma antecipada com penalizações de 30% e 35%. Um deles, com 53 anos de idade e 33 anos de serviço, no 10º escalão, saiu com uma reforma de 1500 euros. O outro, com 58 anos de idade e 35 anos de serviço saiu com 1900 euros. E por que razão saíram? Não aguentam mais a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada, reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar. Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários administrativos.
Texto de Manuel António Pina, publicado no Jornal de Notícias
'Quem pode, foge. Muitos sujeitam-se a perder 40% do vencimento. Fogem para a liberdade. Deixam para trás a loucura e o inferno em que se transformaram as escolas. Em algumas escolas, os conselhos executivos ficaram reduzidos a uma pessoa. Há escolas em que se reformaram antecipadamente o PCE e o vice-presidente. Outras em que já não há docentes para leccionar nos CEFs. Nos grupos de recrutamento de Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia. Há centenas de professores de Contabilidade e de Economia que optaram por reformas antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como profissionais liberais ou em empresas de consultadoria. Só não sai quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento ou porque não tem a idade mínima exigida. Conheço pessoalmente dois professores do ensino secundário, com doutoramento, que optaram pela reforma antecipada com penalizações de 30% e 35%. Um deles, com 53 anos de idade e 33 anos de serviço, no 10º escalão, saiu com uma reforma de 1500 euros. O outro, com 58 anos de idade e 35 anos de serviço saiu com 1900 euros. E por que razão saíram? Não aguentam mais a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada, reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar. Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários administrativos.
'Se não ficasse na história da educação em Portugal como autora do lamentável 'pastiche' de Woody Allen 'Para acabar de vez com o ensino', a actual ministra teria lugar garantido aí e no Guinness por ter causado a maior debandada de que há memória de professores das escolas portuguesas. Segundo o JN de ontem, centenas de professores estão a pedir todos os meses a passagem à reforma, mesmo com enormes penalizações salariais, e esse número tem vindo a mais que duplicar de ano para ano.
Os professores falam de 'desmotivação', de 'frustração', de 'saturação', de 'desconsideração cada vez maior relativamente à profissão', de 'se sentirem a mais' em escolas de cujo léxico desapareceram, como do próprio Estatuto da Carreira Docente, palavras como ensinar e aprender. Algo, convenhamos, um pouco diferente da 'escola de sucesso', do 'passa agora de ano e paga depois', dos milagres estatísticos e dos passarinhos a chilrear sobre que discorrem a ministra e os secretários de Estado sr. Feliz e sr. Contente. Que futuro é possível esperar de uma escola (e de um país) onde os professores se sentem a mais?'
Manuel António Pina
12 comentários:
Há quem saia com menos idade. Depois de vinte e tal anos de estudo afincado, dedicação à prática desde há cerca de 15.
Não aguentar o que se vê, o que se faz.
Eu, saio, certamente em breve. Para já, estou doente, por causa disto tudo e de mais outras coisas mas .... se assim continuar, não sobreviverei ao próximo ano lectivo porque detesto sentir-me cada vez mais doente e deprimida. Colegas, funcionários, alunos e pais .... o que andam a fazer?
Eu não quero morrer por algo que não vale a pena. E não suporto ver mais colegas a desfalecer por isto. O que fazer? Não sei, não sei ... Já tentei tudo, acreditem. Até ao hospital fui parar porque me queriam obrigar a ir ....
300 alunos, 13 turmas, 3 escolas, 150km ou mais diários .... para a serra .... doente oncológica ....
Não me vão matar eles. Mas serão eles a despedir-me porque não lhes vou dar o prazer de desistir.
Assim, se tiver de regressa, farei o que penso ser correcto e possível. Sei que não será compatível com as exigências actuais. Então, despeçam-me. Contarei a minha e outras histórias do princípio ao fim.
M.
Há dias, falando com técnicos de orientação vocacional, deram-me um dado não surpreendente: contrariamente ao que acontecia há uns anos, nos últimos tempos, praticamente não existem jovens que manifestem desejo de um dia virem a ser professores. Esse é um dado, que julgo generalizado e que devia ser atirado à cara do povo português.
Um abraço assim assim
Ou onde vão morrendo?
.:. HAJA MEMÓRIA .:.
Artur José Vieira da Silva
Manuela Estanqueiro
Maria Cândida Pereira
João Quental
Maria José Sousa
http://sinistraministra.blogspot.com/2008/07/em-memria-de-tantos-outros.html
Estou profundamente arrependida de ter seguido a minha vocação. Sei que podia fazer tantas outras coisas e teimei, apesar de avisada, por esta profissão -missão.
Vai haver falta de professores daqui a anos mas da maneira que são formados agora, mais vale que não existam mesmo e que chamem pessoas de outros países. (mas suponho que está tudo calculado .... eles sabem bem quem querem como professores ....) Basta ver as alunas ucranianas por exemplo, brincam com tudo isto .... enfim, são desabafos da descrença.
Enfim, se tivesse filhos, infelizmente não tenho, procurava ensino alternativo.
Que isto está uma peste é verdade que está, mas mentir também não ajudará. Ninguém é avaliado por colegas com menos habilitações, isso é um mito.
Branquinho, não é. O meu avaliador seria de EVT, nem sei que formação tem. eu sou mestre em -ciências Musicais .... o que me diz a isso?
É óbvio que é verdade que há professores a serem avaliados por outros colegas, sem preparação especial para o fazerem... e com menos habilitações...
Este sistema de avaliação é horrível... e a questão da habilitação/formação dos avaliadores é apenas um "pormenor".
A maior parte dos professores pensa, agora, mais em grelhas, relatórios de actividades, evidências, fotos, portefólios, etc... do que nos alunos e suas aprendizagens.
Quem pode, foge. Quem não pode, mija-se.
claro que há pessoas a serem avaliadas por outras de grupos diferentes e com habilitações inferiores. Mas olhe, no meio disto tudo, isso já nem me interessa nada....
Anónimo das 23.57h: esse comentário é bastante desadequado, tendo em conta que aqui se fala de verdadeiro sofrimento. E também de desalento de pessoas que estão a ver gorados e cerceados os seus sonhos vocacionais.
Se há uns anos eu soubesse que o sistema educativo iria ser destruído desta forma, também teria feito outras opções. Mas nessa altura aquela vontade idealista de cumprir uma missão e um serviço ao meu país falou mais alto que a opção por uma carreira mais individualista e menos desgastante. Porém uma coisa era o desgaste produtivo, outra é este absurdo infernal em que se transformou a vida nas Escolas portuguesas. A tortura insensível dos docentes pela teia quase esclavagista da tutela.
Quem me mandou a mim ser idealista e querer contribuir para o desenvolvimento do conhecimento e da cultura, num país como este?
Célia,
isso foi o que eles quiseram ... lamento ver pessoas a baixarem braços .... assim não há vitória possível ou safa ....
Resistir é vencer e .... a luta continua. Toca a levantar a moral e a voltar a pensar como PROFESSOR e a exigir aquilo a que temos direito. Já nem falo para si, pois soaria a conselho. Falo para mim e para todos!
Abraço
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