segunda-feira, novembro 08, 2010

Agora ou nunca mais!



Na sexta-feira fui à primeira reunião deste ano da Associação de Pais da escola dos meus filhos. O maior problema que a escola enfrenta neste momento é a falta de 9 "assistentes operacionais", como agora pomposamente se chama aos auxiliares de acção educativa. Este problema pode levar ao encerramento de pavilhões de aulas, bem como ao impedimento de algumas aulas de educação física por não haver quem abra portas, vigie e limpe os balneários. Neste momento já existem casas de banho encerradas e já foram vistos professores a limpar o chão com uma esfregona. O director da escola secundária, que pertence ao ME, já alertou a DREL várias vezes para este problema, pedindo mais funcionários. Teve ordens para recorrer à bolsa de emprego local. Mas as pessoas que estão nesta situação não podem trabalhar mais do que 3 horas/dia para não terem o direito a subsídio de refeição. Por isso sempre que aparece alguém não fica muito tempo, vendo-se obrigada a aceitar outros trabalhos, como a limpeza de casas particulares, onde recebem 6 euros/hora.
Surgiu a possibilidade da Associação de Pais reportar o caso à DREL, conjuntamente com o director da escola, para reforçar o carácter urgente de desbloquear esta situação. Suponho que os cortes orçamentais vão impedir as escolas de contratar mais pessoal auxiliar. Também o caso do refeitório é inquietante: a escola dispõe de cozinha e cozinheira e as refeições são confeccionadas lá e de boa qualidade. Mas o ME não vai permitir que isso aconteça pois existem as empresas de catering a precisar de fazer negócio. Perspectiva-se que a cozinha venha a encerrar, passando a comida a vir de fora, às paletes. Apesar desta escola já auto-financiar o refeitório com o dinheiro que realiza alugando o pavilhão desportivo.
Posto isto os pais ponderaram em escrever uma carta directamente à Ministra da Educação, dizendo que não havendo condições a escola pode encerrar por incapacidade e o que o problema da falta de funcionários tem implicado de turmas sem aulas.
Ainda um dia destes numa reunião de professores e educadores, coloquei a questão dos professores poderem atestar que estas situações existem nas escolas, mas como o assunto diz respeito a outra classe profissional - a dos "assistentes operacionais" - os professores pouco se mobilizariam por uma outra classe profissional... nem todos. Há professores que funcionam num todo e querem dar aulas e que a escola pública funcione. E já há muito que dizem que todos devem estar juntos nesta luta porque a escola pública é a dos filhos dos trabalhadores e todos eles devem ter condições para a poder frequentar, mesmo os filhos dos desempregados. Se alguma vez as várias classes profissionais tivessem estado juntar na defesa da escola dos seus filhos não teriam ido tão longe nos ataques à escola pública e aos direitos do trabalho. As obras nos edifícios da escola são outro problema que acaba de ser adiado por dois anos, devido às medidas de austeridade.
Nestas reuniões associativas há de tudo. É fácil identificar os pais que procuram desculpabilizar o sistema e apressar os filhos a entrar na faculdade. Estão ali para resolver o problema, para se despacharem. Por isso houve quem propusesse que os pais talvez pudessem pagar os 3 euros que fazem 6 para os que chegam da bolsa de emprego não irem à procura de melhor sorte. Afirmei que isso era contra todos os princípios e que só estaríamos a remendar o sistema enquanto este se demitia das suas obrigações. Nem pensar. Em pouco tempo teríamos os pais a pagar do seu bolso não só cada vez mais impostos como também pagando todos os recursos e quem sabe até um dia comparticipando no ordenado dos professores...
Se não for agora que as associações de pais se mexam com as federações locais, junto com os directores das escolas, a escola pública está em risco iminente de acabar. Cada vez perdemos mais direitos. Não podemos ficar impávidos e serenos.

VER TAMBÉM UMA AVENTURA... [dos "elementos importantes" no reino da OCDE]

1 comentário:

Moriae disse...

Excelente depoimento, Kaótica! E concordo plenamente com o que dizes ... Não dá para andar, por fora, a meter ainda mais dinheiro no bolso destes vigaristas que nos governam!