Hoje é um dia histórico para Portugal, não só pelas más como também pelas piores razões. Para nós, que, nestes espaços, ao longo de seis penosos anos, tivémos a difícil tarefa de penélope de destruir, pela noite, a imagem de perfeição que os assessores do "Engenheiro", com o nosso dinheiro, construíam durante o dia, é tão só um dia de trabalho, como tantos outros: mudará o alvo, mas, infelizmente, a tarefa terá de ser a mesma. O Polvo Paul II, que nunca viu o solzinho a dançar, como a Lúcia, que deus consigo tenha, porque a iluminação do aquário dele é artificial, já avançou com o 18 meses até voltar a haver eleições em Portugal.
Infelizmente, creio que a Bancarrota ou o estado de saúde de Cavaco Silva talvez venham a apressar essa data, mas não vamos começar a ser já pessimistas, porque amanhã ainda é só segunda feira, e vêm aí os feriados de junho, onde esperamos que Passos Coelho ponha já em ação o seu Programa Eleitoral e trabalhe durante o fim de semana que faz ponte, entre os feriados. Por mim, vou tentar fazer ainda menos do que já faço, porque está provado que os povos do Sul trabalham muito mais do que os nojentos do Centro e do Norte, que passam o tempo a comer pepinos para terem dias de baixa. Que vão trabalhar, seus malandros!...
Portanto, o cenário é o seguinte, e só se afasta ligeiramente daquele que eu ambicionava, que era uma maioria de "Direita" que não chegasse a Absoluta, por limiano ou limiano e meio, mas não se pode ter tudo na vida.
Gostei do discurso de despedida de Sócrates, e elogio quem lhe o escreveu, porque aquilo oscilou entre a retórica do Estoicismo, a doçura do Epicurismo e as grande épicas da métrica de "De Bello Gallico", e até me vinham aos olhos lágrimas, a pensar que estava a ouvir César, o homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens, no momento em que o cruel Bruto lhe enfiava a navalha no baixo abdómen; depois, subiu o tom para Suetónio, e, aí, já o Manuel Alegre, o bêbedo das rimas frouxas, soltava lágrimas de elevado teor em álcool, enquanto Maria de Belém se continha, já que a sua altura não permite, com risco de afogamento, que as lacrimais segreguem mais do que um cano descuidadamente roto da autarquia de Lisboa. Chorava Almeida Santos, a pensar que agora se ia poder dedicar aos negócios sujos de Moçambique, e chorava o "alter ego" do "Engenheiro", a quem dou os parabéns, já que lhe deve ter ele polido as palavras e a métrica.
Aquilo não era um hotel, era um vale de lágrimas, e cenas com aquela extensão são muito difíceis, exceto na "Traviata", em que ela espalha horas o Bacilo de Koch, pelo palco, antes de morrer sufocada pelas crateras da pleura, ou em "La Bohème", em que ela ainda tem tempo de reviver os homens todos que despachou em vida, antes de se afundar no acorde da tónica, mas, já que era com Sócrates que estávamos a lidar, a coisa ainda tinha de subir mais, e foi ao tom proconsular de Dion Cassio, em que ele dizia que morria, mas ia ficar vivo, um cidadão, o que fazia lembrar a Roma Republicana, sem a Rocha Tarpeia. Suponho que a Câncio chorasse por cima e por baixo, enquanto Gabriela Canavilhas reconhecia ali o Diretor ideal para o Teatro Nacional, uma espécie de Amélia Gay..., perdão, Rey Colaço, que, amargamente, se desperdiçara pela política, e os adversários da véspera, o nulo Lello, o horrível Assis e o asqueroso Ferro Rodrigues faziam esgares de buldogue. Subiu, então, a prima dona ao final do "Ottelo" e toda ela era Desdémona, a quem o negrão vinha injustamente apertar as goelas, sem antes lhe ter alargado decentemente as trompas de falópio. Adeus, portanto, Zé, que, ao menos, na despedida, tocaste o Steiner, cauda longa, todo, da grandiloquência, e ficamos falados, porque tenho mais que fazer.
A propósito, como sabia que ias perder, e como não quero ter nada a ver com a merda que vem aí, imagina, votei em ti, para provar que também sei ser cavalheiro e puta, e assim ficamos falados...
Do lado oposto, a coisa era mais lúgubre, porque a Portas, calculadeira como sempre, imediatamente começou a fazer contas de cabeça, e, dos dez ministérios do novo governo já sonha com, pelo menos onze, e todos do "full contact", porque, como afirmou, mal soube que estava com o lombinho ajeitado, "ia ter com a família, passando, antes, pela... "ginástica", ou seja, algum "personal treiner" do Estoril, que vai ter de apanhar com a adrenalina toda da tarada.
Passos Coelho é pior, porque é um boneco vazio, de entre Massamá e a Rinchoa, que o Cavaquistão profundo empurrou para a frente, para transformar em filetes, mal comece a patinar. Isso é típico do PSD, que tem um genoma da piranha, e não se desfaz em lirismos, quando perde o pé, mas imediatamente devora as suas cabeças, mal elas deixam de cumprir as ordens dos muitos sovacos que tem.
Como diz o Polvo Paul II, é coisa para ano e meio, se tanto, isto se o FMI não descobrir, antes, as fotos do "Processo do Parque" e as cabeleiras de Catherine Deneuve, que Silva Pereira tão bem trocava com Valente de Oliveira, deixando a fama para a tarada da Sacadura Cabral filha, ou a brasileira do Pedro que pinta o cabelo de caju descubra que ele tem vícios de Strauss-Kahn, e provoque um escândalo à americana, mas da direita baixa.
Os tempos são, pois, promissores, mas não queria deixar este pequeno epitáfio sem uma palavrinha para os desvalidos desta noite: será que não há um pensamento de piedade para Inês de Medeiros, essa nódoa, que agora terá de desembolsar as saudades de Paris diretamente da carteira do Maestro Vitorino de Almeida?:... Será que Isabel Alçada irá ter de dar o cházinho da meia noite ao Rui Vilar, para ele desamparar a Gulbenkian, e ela poder finalmente entrar?... Que será da Carrilha, que não foi eleita Grã Mestra da Maçonaria, e que se arrisca a poder vir ter de dar aulas, e ser avaliada, como docente com curso e doutoramento com média de dez?... Não estais com a dor de Paulo Pedroso, que poderá ver o "Casa Pia" ser reaberto, e ter de reimplantar, à pressa, os sinais que mandou tirar do cu?... E a Câncio, Senhor, que será da Câncio?...
A última palavra ainda é de carinho, e é para Maria Cavaco Silva, que hoje foi votar, com o seu Manequim dos Anos Cinquenta, da Rua dos Fanqueiros, toda enrolada numa peça de tule azul, do tempo das personagens rançosas da medíocre Agustina e do cadáver adiado, Manoel de Oliveira. Ela sorria, mas era a dor quem com ela ia.
Mulher outrora vistosa, aquela Falha de Santo André, que tem entre as ridículas golas da modista e a artrose das vértebras pescoçais, que, com o tempo alargam, e deixam prever "the big one", sofre agora de outro fenómeno geológico nos membros inferiores: há uma elefantíase, acentuada por celulite, que desengonçou as partes ósseas da bacia para baixo. Se Schwarzenegger, nos bons tempos em que comia judeus ricos, para subir na vida, tinha um corpo em V, da cintura para cima, esta tem agora, descambado, uma arco da Rua Augusta, da cintura para baixo. É de supor que anda alargue, durante este ano e meio de Governo contra natura. Corremos o risco de que o Cavaco lá caia, dentro, sem voltar a poder sair, como previu Stephen Hawking, no limiar dos buracos negros. Será isso o "Pügrèsso", ou será tão só a nossa beata forma de encaixar a Bancarrota?...
Que a terra lhes seja leve.